instantâneos e água evian
a fotografia captou o desencontro, ela olhava a câmera, ele para ela. em quadrantes opostos, os dois. é que faltavam dez dias ou quase pra ele viajar para casa, ela em três semanas ia voltar ao lugar que não mais haveria. a noite anterior tinha sido um velho equívoco, pouco se tocavam. ela respeitosa demais, ele aguardando um avanço que nunca veio. tocou seus cotovelos como quem se arrepende no último instante; ela passou os dedos pelo braço dele para se lembrar quando sentisse muita saudade.
no telefone pela derradeira vez ele contara os detalhes que faltavam sobre a vida em paris, ela imaginou os olhos cinza e grandes se esvaziando. não resistia a se entregar aos homens que são sobreviventes, eles tem os olhos fundos e mãos fortes, mas a cada vez que ouvia sobre ex-histórias de amor (como se isso existisse!) preferia anestesiar-se: nunca deixava que elas a machucassem; ao contrário, tornavam-se um estranho talismã a que devia virar as costas, para que pudesse sobreviver, sempre, quando chegasse a hora de sua própria história de amor terminar. era livre, ou esperava que pudesse sê-lo.
se despediriam numa esquina do Second Cup, o copo de um litro de blueberry batido com gelo, sol de tarde escaldante, numa conversa que era só promessa. tensos e ressabiados, ele tímido, ela amedrontada, mas tinha aprendido a dançar... disseram que se veriam no próximo ano, e ambos sabiam que não era verdade, mas foram andando até o palco grande na quadra de baixo. foi ela quem notou que ele tinha esquecido a mochila no café. voltaram para buscá-la de mãos dadas, eram afinal alguns minutos a mais juntos e neles cabiam do mundo todos os desejos que iriam ficar por se realizar. ele desconcertado, ela rindo por dentro do quanto o tinha movido. no fim, ele disse a ela que aquilo tudo parecia baudelaire. la rue assourdissante autour de moi hurlait.a rua ensurdecedora agoniza ao redor de mim. moi, je buvais, crispé comme un extravagant. dans son oeil, ciel livide où germe l'ouragan. eu, embevecido, inquieto como um extravagante. em seus olhos, o céu lívido onde se oculta o furacão. oh toi que j'eusse aimée, à toi qui le savais! ah se eu a amasse, ah se eu a conhecesse!
nada... ela gostaria que fosse um solo de guitarra tocando antes da noite chegar, mas ele não tivera adolescência, só lia manuscritos medievais e, agora, estava assombrado pela conversa moderninha dela. ela não sentia mais o terror de ser deixada, aquele com o qual todas as mulheres nascem. le fleurs du mal? dói muito, mon amour. quando for, não perca o vôo para o Rio de Janeiro.
no telefone pela derradeira vez ele contara os detalhes que faltavam sobre a vida em paris, ela imaginou os olhos cinza e grandes se esvaziando. não resistia a se entregar aos homens que são sobreviventes, eles tem os olhos fundos e mãos fortes, mas a cada vez que ouvia sobre ex-histórias de amor (como se isso existisse!) preferia anestesiar-se: nunca deixava que elas a machucassem; ao contrário, tornavam-se um estranho talismã a que devia virar as costas, para que pudesse sobreviver, sempre, quando chegasse a hora de sua própria história de amor terminar. era livre, ou esperava que pudesse sê-lo.
se despediriam numa esquina do Second Cup, o copo de um litro de blueberry batido com gelo, sol de tarde escaldante, numa conversa que era só promessa. tensos e ressabiados, ele tímido, ela amedrontada, mas tinha aprendido a dançar... disseram que se veriam no próximo ano, e ambos sabiam que não era verdade, mas foram andando até o palco grande na quadra de baixo. foi ela quem notou que ele tinha esquecido a mochila no café. voltaram para buscá-la de mãos dadas, eram afinal alguns minutos a mais juntos e neles cabiam do mundo todos os desejos que iriam ficar por se realizar. ele desconcertado, ela rindo por dentro do quanto o tinha movido. no fim, ele disse a ela que aquilo tudo parecia baudelaire. la rue assourdissante autour de moi hurlait.a rua ensurdecedora agoniza ao redor de mim. moi, je buvais, crispé comme un extravagant. dans son oeil, ciel livide où germe l'ouragan. eu, embevecido, inquieto como um extravagante. em seus olhos, o céu lívido onde se oculta o furacão. oh toi que j'eusse aimée, à toi qui le savais! ah se eu a amasse, ah se eu a conhecesse!
nada... ela gostaria que fosse um solo de guitarra tocando antes da noite chegar, mas ele não tivera adolescência, só lia manuscritos medievais e, agora, estava assombrado pela conversa moderninha dela. ela não sentia mais o terror de ser deixada, aquele com o qual todas as mulheres nascem. le fleurs du mal? dói muito, mon amour. quando for, não perca o vôo para o Rio de Janeiro.
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