Carta para um amigo de quem, tomara, eu não tenha me despedido hoje

Penso, K, que ser de esquerda não é assumir o credo de um partido, agremiação ou aparelho localizado e classificado automaticamente como vanguarda. Mas, dado o tom das brincadeiras entre nós, queria, por que você é meu amigo do coração e espero que você me considere assim também - que você pensasse com mais cuidado antes de concordar com boataria de quem fica em silêncio - sem nunca colocar às claras o que pensa - ou sai dizendo por aí que eu faço perguntas psdb, pra um público psdb. O que eu perguntei pro SF, conforme pode ser conferido nas gravações, é que dado que existe um fetiche de consumo da arquitetura pela classe média, como se faz se a gente quiser incutir nessa tal classe média a - tão querida por nós - consciência crítica. E não enfiar a cabeça na terra, fingirmos nós que não pertencemos a ela e achar que nós, os que se encontram no meio, temos sempre a interpretação bem sucedida e a boa solução para a vida dos desassistidos.

Em muitos casos, K, e você me espantará se negar isso, a tal classe baixa, a tal habitação social viram fetiche de artistas, arquitetos e pesquisas, e isso a meu ver é tão prejudicial quanto firmas de arquitetos associados que se consideram herdeiros do modernismo, a quem você mesmo dá grande valor.

Entendo, que nessa disputa de idéias e pesquisas e conceitos que a gente tem travado um tanto capengamente até então, os clichês graças a Deus já tiveram sua boa hora. Este já é um outro tempo, eu penso: uma época de tomar distância em relação ao real, mas sem perdê-lo de vista.

Eu, de minha parte, só consigo fazer crítica tentando uma via do possível, falando do que eu vivo de verdade, explorando um caminho em que eu conheça as regras, para questioná-las. Claro que você vai dizer que isso é totalmente FHC mas é só isso que sei fazer, e tenho tentado fazê-lo com respeito. Sem subir favelas, mas também sem nenhum usufruto do "mito das aparências".


um beijo, com amizade.

Comments

juliana m. said…
"tão prejudicial quanto firmas de arquitetos associados que se consideram herdeiros do modernismo". Excelente, excelente, excelente.
Ótimo texto.

beijos, Juliana
ju, me manda seu email, quero te escrever e não consigo acessar seu blog. beijo, rita.
"O que seria da rosa se todas as violetas quisessem ser como ela?"

Deixem as firmas existirem. Criaremos anticorpos e as firmas torna-se-ão vacinas: contém o vírus mas nada nos causa.

Delícia de blog.

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