vinte minutos de caminhada num terreno plano e nenhuma dor no joelho esquerdo

tenho uma doença antiga, muito antiga. uma espécie estranha de paralisia que me acomete em cada antecedência de um prazo para entregar artigo, texto, projeto, desenho, notas, etc. em maio do ano passado encontrei um remédio, que nem era assim tão amargo, descoberto à beira-mar, e depois dali escrevi sem qualquer dor. em março deste ano, a dor afinal se concretizou - o texto (que eu achava, há milênios, ser tudo o que escreveria na vida) estava pronto, apresentei-o, passou, passou, mas os meus joelhos doíam de verdade. assim era melhor, era algo palpável. a quem eu enganava? era aterrorizante: trocava a paralisia por um medo atroz de não poder andar a pé pelas cidades, os passeios que mais me divertem. passei muitas noites no fim do verão acordada, achando que eu vou ter uma velhice complicada, cheia de problemas nas articulações. talvez. mas,no outono, mesmo os joelhos me deram trégua, e a dor cessou numa noite de quarta-feira. acho que foi quando dei conta de escrever convites de frases bem simples como "olá, defendi a tese, vamos passear?" troquei a paralisia por leveza, é fato. mas as doenças antigas são nossas como os contornos do corpo, a pele dos tornozelos, os vidros de perfume. tenho ainda uma doença antiga, muito antiga. agora ela está em férias, junto comigo. uma espécie estranha de paralisia que cresce a cada vez que preciso escrever se não é por puro ócio, se não são minhas afimativas minúsculas e sempre rebeladas, que não sabem o que fazer com a própria indignação. então voltei aqui.

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