taxonomia de usuários de arquitetura

“(...) todos os tipos de pessoas, quer letrados, cidadão, cortesãos. Gentlemen da cidade ou do campo, e todos os dândis, libertinos, ladinos, puritanos, coquetes, donas de casa, e toda sorte de espíritos, quer masculinos ou femininos, e não importa quão eminentes, quer sejam espíritos verdadeiros, integrais ou pela metade, ou quer maliciosos, ríspidos, naturais, adquiridos, genuínos ou depravados, e pessoas de toda espécie de temperamentos e complicações, quer o severo, o encantador, o impertinente, o agradável, o pensativo, o ocupado, o descuidado, o sereno ou sombrio, jovial ou melancólico, intratável ou complacente, frio, moderado ou sanguinário; e de quais quer hábitos ou disposições que seja o caso, quer o ambicioso ou o modesto, o orgulhoso ou o piedoso, engenhoso ou desprezível, bem ou mal humorado, benemerente ou egoísta; e sob quaisquer que sejam a fortuna ou circunstância, quer o satisfeito ou o miserável, feliz ou infeliz, superior ou inferior, rico ou pobre, quer necessitado de dinheiro ou desejoso de mais, saudável ou doentio, casado ou solteiro; e mais ainda, quer alto ou baixo, gordo ou magro; e de qualquer que seja o comércio, ocupação, posição, profissão, situação social, país, facção, partido, credo, qualidade, idade ou condição, que tenha em qualquer situação feito da reflexão uma parte de sua ocupação ou diversão, e tenha qualquer coisa que valha a pena comunicar para o mundo sobre estes assuntos de acordo com seus variados e respectivos talentos ou índoles, e à medida que o assunto dado atingir seus temperamentos, humores, circunstâncias, ou puder tornar-se proveitoso ao público por seu conhecimento ou experiência particular ao tema proposto, fazer o máximo para que possam receber o prazer inexprimível e irresistível de ver seus ensaios admitidos e saboreados pelo resto da humanidade[1].”
[1] Pallares-Burke, Maria Lúcia Garcia. The Spectator. O teatro das luzes. Diálogo e imprensa no século XVIII. SP: Hucitec, 1993, 88.

“Depois do artesão abastado vêm os manobreiros, os jornaleiros, os carregadores, os operários que estão na miséria; a vida conjugal [entenda-se o conjunto das práticas domésticas] destes não tem mais consistência que um mar borrascoso: ora, quando a penúria se faz sentir, se injuriam e se engalfinham; ora, quando o dinheiro os vem reanimar, se banqueteiam à sua maneira e se embriagam[1].”
“As parisienses são amplamente dominadas pelas moças da alta sociedade, ‘bem nascidas’, ‘ricas’, ‘afortunadas’; traços precisos, que denunciam o que falta entre as ausentes. (...) Doze classes são necessárias para matizar os caracteres gerais das parisienses, ligeiras e fúteis porque atribuem importância excessiva às produções das artes, sem preconceito de condição(...),coquetes não por defeito de sentimento, mas porque o mercado dos sexos impõe uma concorrência impiedosa, menos maldizentes que na província, parcimoniosas porque a vida parisiense custa caro. De cima para baixo: as moças de primeira qualidade (1), as moças de qualidade (2), as moças nobres (3), as filhas de magistrados (4), as de financistas (5), as burguesas (6), com as quais principia “outro trem de vida, quase outro modo de pensar’, as filhas dos grandes comerciantes (7), as filhas de comerciantes comuns (8), - ‘elas povoam as lojas, mas nem sempre permanecem ali’ -, as filhas de artistas (9) – classe peculiar à capital -, que podem ser mimadas e libertinas, as filhas de artesãos(10), as operárias (11) que trabalham nas oficinas e nas lojas, ‘bem afastadas dos costumes das honestas camponesas’ e que ‘nada têm a seu favor, seu exterior é repugnante, suas maneiras e seus discursos ainda mais”; enfim, as moças do populacho (12), ávidas, corrompidas, desnaturadas, que ignoram todas as possibilidades oferecidas pela cidade[2].”
“Enfim, há operários dos portos, das indústrias, os companheiros, marceneiros, carpinteiros, estuqueiros, pedreiros, serralheiros, curtidores, encadernadores, pergamineiros, talhadadeiros, funileiros; numa palavra, todos os estados e profissões, trabalhadores braçais e trabalhadores manuais, aos quais cabe acrescentar os alverneses, os savoianos, os aguadeiros, os carvoeiros, os açougueiros. Há ainda os lacaios, escudeiros, pajens, criados, recadeiros, grisões, picadores, porteiros, mços de canil, de estrebaria, de cozinha, palafreneiros; a vigilância deve ser ativa em relação a estes porque, desencaminhados pelos exemplos que seus senhores lhes, esses infelizes acabm frequentemente na forca, na roda, na fogueira, quando não têm a boa fortuna de acabar nas galés(...)[3]
[1] Rétif de L aBretonne, Le Ménage parisien, Paris, 1773, éd. Paris, 1978, pp. 169-170. Citado por Daniel Roche. O Povo de Paris. Ensaio sobre a cultura popular no século XVIII. São Paulo: EDUSP, 2004, p. 92
[2] Roche, idem, 94
[3] Roche, idem, 94


Os proprietários, os instruídos, l’aristocracie financière, os Stehkragenproletarier, proletários de colarinho engomado, os exércitos de funcionários, a Geldaristokratie – a Alemanha ( Grossbürgertum, Kleinbürgertum), os franceses (grande, bonne, petite bourgeoisie).

Comments

sam said…
Adorei isso tudo =)

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