nomes são difíceis de conquistar

"Todas essas delicadezas, ordenadas à duração do edifício, em nada se comparavam àquelas reservadas à elaboração das emoções e vibrações na alma do futuro contemplador de sua obra. (...) O mortal não percebia estar sendo conduzido a uma espécie de felicidade, graças a curvaturas insensíveis, a ínfimas e poderosas inflexões, a sutis combinações do regular e do irregular que ele havia introduzido e escondido, tornando-as tão imperiosas quanto eram indefiníveis. Dócil a essa presença invisível, o móvel espectador era transportado de surpresa em surpresa e dos grandes silêncios aos murmúrios de prazer, à medida em que avançava, recuava e de novo se aproximava, vagando no interior da obra, movido por ela, aprisionado unicamente em sua própria admiração. - É preciso, dizia Eupalinos de Mégara, que meu templo mova os homens como o faz o objeto amado." (Paul Valéry, Eupalinos).
Nos grifos, a dificuldade de um autor em encontrar o nome pelo qual se chama uma coisa. Neste caso, o sujeito de uma ação. Definitivamente, alguém "vagando no interior de uma obra", movido e aprisionado por ela não é espectador ou contemplador. Tem, certamente, um nome prosaico - de tal maneira regido pelo princípio da deshierarquização - que a prosa de Valéry não poderia descrever. Gosto de pensar que essa é a sutil vingança da arquitetura: aparentemente submissa às categorias que a classificam, expõe-se sem pudor. Deixa-se olhar de perto, muito perto. Mas, opaca, torna-se refratária a toda teoria que a idealiza em demasia.

Comments

Popular Posts