s'éveille-t-elle en lui. déloge l'homme en lui

quando um amor hiberna: enquanto aguarda para retornar num único gesto, desesperadamente delicado, de puro medo de ter-se perdido para sempre no futuro.
eu devia molhar seus lábios, vejo-os daqui, 30 cm distante, ele calculava bem distâncias. - ela não ousaria tocar minhas pernas com os pés - e ouviu-a dizer que ia viajar.
uma permissão tácita - tanta gente ao redor - fez com que ela passasse o tempo naquela tarde investigando o rosto dele. viram-se quando ela saía de casa, ele atravessando a rua para entrar. até lhe disse "você tem o mesmo olhar", mas não eram os olhos o que queria descrever , era uma inevitável textura em como ele a olhava, intenso e sem qualquer timidez, mas ressabiado, um olhar de estranha posse: viu-se reconhecida no que ele olhava, tão igual a antes.
não trocavam mais que duas palavras a cada vez que se encontraram em quase duas décadas, mas daquela vez fora ele quem dissera uma frase longa: "o perfume de flor anunciou você, sem esperar soube que estava aqui".
bem, era definitivamente uma frase por inteiro - ela podia se desconcertar por conta própria, e emudecer. já podia partir , o silêncio dela manteria a equação daquelas aproximações cambaleantes. era bom e prudente que saísse dali, sentiu um suor leve e frio na nuca.
as despedidas entre eles, noutras vezes belas ou desprezíveis, haviam deixado de ser lamentos de parte a parte. apenas seguiam para lugares em que juntos jamais teriam cabido. outonos um depois do outro.
um amor repleto, entretanto inacabado. tinham se encontrado muito cedo, talvez fosse isso, ele provavelmente pensava o mesmo, ainda que se admirasse a cada vez que alguém próximo lhe perguntava porque insistia -como ninguém (além dele) via que não era um círculo? era só o tempo seguindo seu curso, quando eles se tocavam breve e erraticamente, de novo e de novo. (lembre-me de chorar quando vir mais uma vez o final de les invasions barbaires) , e então choraria por si mesma, não pelas emoções tão confusas da sua própria geração, dela e dele.
ela pressente o aguaceiro por trás do vento anunciando a noite de segunda-feira.
por que a considerava sua, ele mandou servir os dois cafés no mesmo copo. ela estancou por um segundo, sentiu de novo a fina camada de suor frio na nuca. a intimidade brota sempre de um chão bruto, seu cheiro é bom como a primeira água de chuva. um viço moroso sobre o asfalto quente. uma paisagem improvisada em seus corpos. ela ficou em silêncio, quem sabe desta vez para desequilibrar a equação. tomou o copo grande de café que beberiam juntos das mãos dele. desperte-a nele. desaloje o homem que há nele. parfait mélange.

Comments

sam said…
lindo lindo lindo =)
julho tah chegando =) jeejejejej
Laura said…
This comment has been removed by the author.
Laura said…
mmm...gostei...
ainda bem q a vida não é tão simples...e que uma coisa é certa: o mundo dá voltas!
Primeiro tempo: lendo ateh metade e gostando. Depois volto pra terminar. Bjaum!
OCSB said…
primeiro, um silêncio.
relendo, ele estranhou: não comentei isso aqui até hoje? esse silêncio ecoou outro, mas as cores, essas falavam. em siêncio, ouvíamos.
eu já li coisa boa, mas isso aqui.... putz... isso é que é densidade... .. (.....) +++++
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